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Viver

Vestígios da Cerca de Ponte de Sor (séc. XV)
Vestígios já bastante descaraterizados da Cerca mandada construir por D. Duarte, «pera repairo dos caminhantes, e alguma segurança do Reino», segundo Rui de Pina. Este cronista dos séculos XV/XVI dá inclusivamente conta que uma das hipotéticas causas de morte do monarca está associada à sua passagem por Ponte de Sor, em 1438, vindo de Avis e dirigindo-se para Tomar, onde faleceu: «uns disseram, que, quando passara pela Ponte de Sor mostrando rijamente com a mão direita a altura de um Cubelo que aí mandava fazer, se desencaixara o braço, a que depois correra humor, de que seu fim se causara» (Chronica d’el rei D. Duarte). Talvez devido à morte do rei, a Cerca nunca foi concluída. Há registo de que em 1527 ainda existia em Ponte de Sor «uma cerca de muro de taipa, antiga, começada em meia altura»; porém, em 1758, já não haveria memória da obra, pois o pároco de Ponte de Sor afirma que esta «não é murada, nem Praça de Armas, nem nela há castelo, ou torre antiga». Fotografias do início do século XX mostram um muro, nesta zona junto à Fonte da Vila, consideravelmente maior, que entretanto foi desaparecendo. É possível que outras cortinas da Cerca fossem sendo demolidas com o crescimento urbano e que alguns dos materiais originais tenham sido integrados noutras construções.

Fonte da Vila de Ponte de Sor (séc. XVIII)
Data possivelmente do século XVIII (reinado de D. João V). Trata-se de uma construção em alvenaria de dimensões razoáveis. No centro do frontispício estão esculpidas as armas de D. João V (reinado de 1707-1750), monarca que teria mandado executar a obra. Na parte superior, um pequeno frontão recortado e motivos vegetalistas esculpidos ao centro; em frente, um pequeno tanque retangular. A referência mais antiga a esta fonte é feita pelo Dr. Francisco da Fonseca Henriques, que foi médico de D. João V, na obra Aquilegio Medicinal, publicada em 1726, na qual descreve as qualidades terapêuticas das águas das caldas, fontes, rios e poços de Portugal. Diz existir na vila de Ponte de Sor uma fonte «que tem conhecida virtude para os achaques de pedra, e areias, como se tem experimentado muitas vezes».

Ponte sobre a Ribeira de Sor (séc. XIX)
O nome de Ponte de Sor deriva do monumento de origem provavelmente romana construído sobre a Ribeira de Sor, em cuja margem direita a cidade se situa. É possível que essa primeira ponte, de que hoje não restam quaisquer vestígios, tenha integrado uma das vias romanas que ligavam Mérida (Emerita Augusta), capital da província da Lusitânia, a Lisboa (Olissipo). Ignora-se quando é que a primeira ponte construída sobre a Ribeira de Sor ruiu, mas é certo que no século XVIII não existiam mais do que vestígios dessa estrutura. A travessia da Ribeira era feita através de um caminho a jusante da Ponte hoje existente e de uma barca, cuja exploração era arrendada a terceiros pelo Município. A atual Ponte foi construída em 1822-1823, no reinado de D. João VI, como se pode ler na inscrição gravada no marco colocado à entrada do monumento, junto às escadas que descem para a Fonte da Vila. Parte da Ponte ruiu durante uma cheia poucas décadas depois e foi recuperada em 1867, substituindo-se os arcos destruídos, no leito da Ribeira, por três grandes arcos de cantaria, que se mantêm até aos nossos dias.

Ponte sobre a Ribeira do Andreu (séc. XIX)
Trata-se de uma edificação contemporânea da Ponte sobre a Ribeira de Sor, tendo sido construída em 1828, no reinado de D. João VI. Ligava a vila de Ponte de Sor à de Galveias, através de uma estrada entretanto desaparecida, mas cujas lajes de pedra ainda se encontram parcialmente visíveis junto a este monumento. Com um arco de volta perfeita sobre a Ribeira do Andreu, um afluente da Ribeira de Sor, esta Ponte, que a tradição oral popular consagrou erradamente como «Ponte dos Mouros», encontra-se inserida numa paisagem verdejante, algo rara no contexto Alentejano. Aproveitando esse cenário, até meados do século XX, os jovens pontessorenses aproveitavam um açude construído próximo da Ponte para, nos dias quentes e secos típicos do estio alentejano, se banharem nas águas refrescantes da Ribeira do Andreu.

Paços do Concelho de Ponte de Sor (séc. XIX)
Edifício datado de 1886, albergou, para além dos serviços do Município, o Tribunal da Comarca e a Cadeia de Ponte de Sor. Construído em alvenaria, foram responsáveis pela obra António Maria Carvalho (pedreiro) e José Ferreira Pimenta (carpinteiro). O edifício foi intervencionado logo em 1894, tendo sido aumentado, e já mais recentemente sofreu pequenas obras de adaptação a novos serviços e de manutenção, que não provocaram alterações significativas. Funcionou até 1986 como sede dos Paços do Concelho; a partir de 1991 e até 2009, acolheu a Biblioteca Municipal. Trata-se de um edifício de planta retangular, com dois pisos e de dimensões consideráveis. Construído segundo estilo dos finais do século XIX, revela uma boa qualidade arquitetónica. Proporções consideráveis, muitas aberturas e o gradeamento ao nível do telhado conferem-lhe grande sobriedade. No interior, é de salientar o salão nobre, com um teto em gesso profusamente trabalhado, onde sobressaem as armas da cidade.

Fábrica de Moagem de Cereais e Descasque de Arroz (atual CAC, 1920)
Edifício construído no início da década de 1920, de raiz, para albergar a Fábrica propriedade da Sociedade Industrial, Lda., constituída na mesma altura. Localiza-se junto a uma das duas principais artérias de Ponte de Sor, numa zona estratégica equidistante do centro da então vila e da Estação de Caminho-de-ferro. Apresenta um estilo arquitetónico típico da função industrial e da época, do qual se encontram exemplares semelhantes desde logo em concelhos vizinhos. A planta do edifício caracteriza-se pela existência de um corpo central, onde estava instalada parte da maquinaria, e de seis corpos laterais, três a sul e três a norte, para armazenamento dos cereais transformados e por transformar. A Fábrica dedicava-se ao comércio de cereais, à moagem de cereais para obtenção de farinha espoada e de farinha em rama e ao descasque de arroz. Em 1968, foi vendida à firma SOSOR, Lda., que manteve apenas o descasque de arroz por mais alguns anos. Em 1997, o Município de Ponte de Sor adquiriu o edifício, com o objetivo de o reutilizar para fins culturais, passando a acolher, desde 2009, o Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor. Do projeto, fizeram parte a manutenção e a recuperação da estrutura e da maquinaria do equipamento, que constitui assim um importante núcleo de arqueologia industrial. Os dois espaços privilegiados para um contacto direto com o passado da Fábrica são a secção de descasque de arroz e a de moagem de farinha em rama, que se pretende musealizar em breve.

Teatro-Cinema de Ponte de Sor (1936)
Edifício mandado construir pelo proprietário e benemérito local José Nogueira Vaz Monteiro, que destinou o seu rendimento à Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Sor. Foi inaugurado a 16 de Fevereiro de 1936, com uma conhecida comédia do dramaturgo D. João da Câmara, intitulada «Os Velhos», representada pela Companhia Rey Colaço – Robles Monteiro, do Teatro Nacional D. Maria II. Trata-se de um edifício integrado na arquitetura de cineteatros do Estado Novo, de boas proporções, com três pisos. Antes da existência deste espaço, as companhias teatrais que visitavam Ponte de Sor atuavam no velho teatro da Praça, situado no lugar onde se encontra hoje o Mercado Municipal, num antigo palheiro adaptado. Depois de alguns anos desativado, o Teatro-Cinema de Ponte de Sor foi adquirido pela Câmara Municipal em 1992, sofrendo obras de reabilitação e readquirindo as suas funções originais. Assim, atualmente são aqui exibidas as últimas novidades cinematográficas internacionais, intercaladas periodicamente com diversas representações teatrais.

Hospital Vaz Monteiro (atual Unidade de Cuidados Continuados, 1936)
Inaugurado em 1936, em simultâneo com o Teatro-Cinema, situado nas imediações, o Hospital Vaz Monteiro foi mandado construir por José Nogueira Vaz Monteiro e sua irmã, Ana Nogueira Vaz Monteiro, e doado à Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Sor. Localizado junto ao antigo Campo da Restauração, o conjunto integrava o Hospital propriamente dito, um pavilhão para isolamento de doentes e uma capela, estando devidamente mobilado e apetrechado. Este equipamento hospitalar veio substituir o antigo Hospital da Misericórdia de Ponte de Sor, situado na Rua Gomes Freire de Andrade, que tinha uma reduzida capacidade de internamento a apresentava sérios problemas de conservação. Atualmente, e após ter funcionado como Centro de Saúde de Ponte de Sor entre as décadas de 1970 e 1990, o edifício do Hospital Vaz Monteiro mantém uma vocação assistencial no campo da saúde, albergando a Unidade de Cuidados Continuados de Ponte de Sor, novamente a cargo da Santa Casa de Misericórdia.

Barragem de Montargil (1959)
A construção de uma albufeira nesta região foi estudada desde, pelo menos, finais do século XIX, inserida no sistema de regadio do Vale do Sorraia. No entanto, o levantamento topográfico da zona só foi realizado no final dos anos de 1930, tendo o projeto da barragem sido lançado em 1954 e ficando concluído quatro anos mais tarde. Esta obra, promovida pela Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, visava, por um lado, promover a eletrificação dos meios rurais e, por outro, aumentar a rentabilidade agrícola, quer através da maior disponibilidade de água, quer em consequência da eletrificação, que permite a modernização da maquinaria. Após o cumprimento destes objetivos, a Junta de Colonização Interna, organismo corporativo responsável pelo projeto de Reformismo Agrário do Estado Novo, deveria promover a colonização da área de regadio da Albufeira de Montargil, através do recrutamento de colonos do Norte de Portugal. No entanto, tal como em tantas outras zonas do Sul, este projeto ficou por concretizar, devido a impedimentos legais e institucionais relacionados com a atuação em propriedade privada. A Barragem de Montargil acabou por alterar radicalmente a geografia local, criando-se um lago artificial com uma capacidade total de mais de 164 milhões de metros cúbicos de água.

Moinho de vento de Foros de Arrão (séc. XX)
Localizado em Foros de Arrão, povoação que se desenvolveu a partir do aforamento, em 1912, da «Herdade de Arrão», num movimento conhecido na historiografia por «colonização espontânea», este moinho foi construído, na década de 1930, para fazer face à inexistência de cursos de água que fornecessem a energia motora para a moagem dos cereais cultivados. A sua atividade cessou devido à falta de vento causada pela plantação de pinhais nas proximidades. O Moinho, que esteve em ruínas durante décadas, bem como a área envolvente, encontram-se atualmente a ser recuperados pelo Município de Ponte de Sor.